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6 de outubro de 2016

CULTURA | Um Visão Pernambucana Sobre Porto Alegre

A gente sabe que no Brasil cada cidade enfatiza uma cultura local. Se tu vai para o norte do país é gritante a forma de falar e viver num estilo praiano e mais tranquilo, comparado as cidades grandes como São Paulo e Rio de Janeiro. Já entre estas duas, apesar de cidades próximas e grandes, a gente também percebe a diferença de clima e organização, o que influencia diretamente no estilo de vida dos paulistas e cariocas. E no Rio Grande do Sul, quais as características gritantes que só os gaúchos tem?

Alguém que tenha amigos fora do RS já deve ter escutado que nós, gaúchos, falamos cantando e cheios de gíria. Por essas e outras, convidamos a amiga e leitora pernambucana, Roberta Dornelas, para o quadro #MITOS E VERDADES sobre Porto Alegre. A Beta nos contou algumas coisas que ela notou de cara em relação ao nosso jeito de falar e viver aqui em Porto Alegre, desde que ela veio morar aqui há 6 anos atrás. Confere aí:

UM POUCO SOBRE PORTO ALEGRE 
por Roberta Dornelas.


Dia desses, vi um texto de um cara francês sobre vários detalhes aleatórios que ele percebeu ao vir ao Brasil. Resolvi fazer o mesmo com Porto Alegre, para deixar registradas algumas impressões sobre a cidade antes que eu me acostumasse tanto com o estilo que depois tudo parecesse normal para mim. Aí vai:

  • Em POA, as pessoas se guiam pela estação do ano para escolher a roupa antes de sair de casa, não pela temperatura real. Se é inverno, deve-se usar casaco, mesmo que dê 30 graus. Se é verão, todo mundo sai de regata, mesmo que seja uma noite fria;
  • Em PoA (ou no RS?), as pessoas acham que churrasco só existe aqui. Ok, pode até ser mais comum por aqui, mas comi churrasco a vida inteira em Recife também! Desse mesmo jeitinho, tá? Churrasqueira, espetos, carne, sal grosso etc...
  • As comidas são todas gigantes. É cachorro-quente com 50 tipos de recheios e 2 salsichas. É xis que se divide pra 4 pessoas. É pastel com 1,5kg de recheio. Não sei como metade da população não é obesa...
  • Já que mencionei, tem o tal do xis. Xis é pão, tomate, alface, milho, ervilha, salsa, tomate, maionese, mostarda, coração, calabresa, frango, filé... enfim, é pão com o que você quiser dentro! Desde que seja gorduroso e gigante (e delicioso);
  • Aqui existem vários termos populares incompreensíveis para o resto do Brasil (eu acho!), tais como: Cachorro vira-lata é “cusco”. Geléia é “chimia” e há quem diga que são coisas diferentes, mas todo mundo chama os dois de chimia mesmo. Tangerina é bergamota.  Macaxeira é aipim. Ladeira é lomba... E a sensação maravilhosa de chegar na padaria e pedir um “cacetinho”(pão francês)? Não dá para esquecer que, aqui, misto-quente é torrada gente! Então dá para pedir uma torrada de cacetinho, se quiser, que eles entendem...

  • Metade das palavras são cortadas, ou seja, faladas pela metade. As pessoas marcam de fazer um CHURRAS no FINDI, as minas levam REFRI e os caras levam a CEVA. Pior é que os garçons nem sequer me entendem de primeira quando peço um “refrigerante”. Parece anormal demais falar a palavra completa;
  • Aqui em POA não tem praia! Por isso, sempre que vou visitar a família em Recife todo mundo me pergunta sobre as praias quando volto. A decepção é gigante quando digo que não, eu não fui para a praia. “Mas como assim tu foi pro nordeste e não foi pra praia???”. É tipo um gaúcho que mora fora, vir pro RS nas férias, e eu perguntar: “Mas como assim tu não foi pra Gramado???”
  • Aqui no RS as comidas têm época. Todo mundo chama de louco quem falar em tomar vinho ou comer feijoada no verão, porque são coisas de inverno. Engraçado é que eles mesmos vão pra rua num calor de 40º tomar chimarrão...e ah! Ainda existem inúmeros estilos para preparar o chimarrão...
  • Aqui eles realmente usam aquelas gírias típicas que conhecemos, como tchê, barbaridade, tri... mas não tanto como se pensa. Só o “bah” é que é bastante usado. Acho que o “bah” é 1 em cada 5 palavras que ouço aqui;
  • Muitos aqui tem mania de usar umas expressões que comparam coisas que acho muito engraçadas. Se vêem um carro ocupando duas vagas no estacionamento, eles dizem: “esse aí estacionou que nem a cara dele!”. Se tem alguém meio perdido, “tá mais perdido que filho de prostituta em dia dos pais”...HAHAHA!
  • Qualquer nome de rua, prédio, praça etc que você ver no RS, que faça referência a algo ou alguém histórico que você não conhece, chute que é sobre a revolução farroupilha. 95% de chances de acertar;
  • Não sei se é porque estou acostumada com Recife, onde nunca tinha muitos shows, mas parece que toda banda do mundo vem pra Porto Alegre. Se você é fã de uma banda de rock, pop, grunge, indie, cigano, funk de uma cidade do interior da Bélgica, não se preocupe: uma hora essa banda vai vir tocar aqui!
  • Tudo que aqui é legal, é tipo “afu”. O que é afu? É “afudê” reduzido. Aaaaaaaah tá, agora entendeu né...
  • Aqui tem uma coisa muito boa, que é uma lei municipal (acho que é lei municipal) que obriga o uso de fones de ouvido no ônibus. Mas tem também uma coisa muito ruim: ainda estamos no Brasil, onde leis não são cumpridas;
  • Quem acha que gaúcho é bairrista, em geral, tem toda razão! A maioria tende a achar que tudo aqui é o melhor. Mas, ao mesmo tempo, eles mostram bastante interesse em coisas de fora. Nunca me senti discriminada por ser de fora e nunca percebi nenhum preconceito desse tipo. Pelo contrário, acho até que o fato de ser de fora me fez conhecer mais gente;
  • A galera adora reclamar do trânsito aqui. Ok, não digo que é uma maravilha, mas é porque vocês não fazem ideia de como é em outros lugares! Em Recife deve ter o dobro do número de carros e as ruas tem metade da largura das daqui. Então eu ando aqui bem feliz com o trânsito "bom", enquanto os "nativos" reclamam hahaha;
  • Chega o verão e dá aquele dia de 40º. Todo mundo me olha e diz: "ah, mas tu tá acostumada com calor, né?". Amigos, NÃO. Recife não faz frio, mas a máxima lá é uns 30 e pouquinhos. Aqui a cidade fica localizada diretamente acima dos portões do inferno. Tem dia que tu pode fritar um ovo na cara se quiser de tão quente;
  • Ainda nessa de temperatura, o tempo aqui varia mais em um dia do que varia em Recife no ano inteiro. Tu tem que sair de casa de biquini, blusinha, casaquinho leve e lã, pra ir tirando e colocando conforme o decorrer do dia. Show de bola POA, só que não;
  • Pra finalizar, decide: Grêmio ou Inter? Se ficar na dúvida, escolhe logo algum e vai até a morte. Eles são bem fiéis aos seus times e isso vem de berço! Eu acabei virando gremista porque todo mundo que eu conhecia era gremista no início... e teve toda a treta com o Náutico (batalha dos aflitos) e eu não gosto do Náutico, então ponto pro grêmio! Aqui é meio que uma obrigação tu escolher um (mesmo a galera do interior, que torce pro time da própria cidade, também tem que escolher grêmio ou inter como segundo time!).

Acho que o que me faz gostar daqui é o fato de ser um lugar bem "diferente", como o Nordeste. Um lugar com muita cultura, com gente receptiva. Antes de vir, admito que tinha um certo preconceito e receio de como seria minha vida aqui, mas... acho que PoA é bem afudê! :)

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Texto: Roberta Dornelas, 27. Jornalista e Servidora Pública Federal.
Edição: Ágatha Prudêncio
Imagens: Reprodução
Tags: Cultura, Viagens, Porto Alegre, Mitos e Verdades

2 comentários:

  1. Que engraçado, a gente nem percebe algumas coisas.. mas lendo aqui to me matando de rir kkk

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    1. Exatamente, Bruno! Nossa, me identifiquei com muitas coisas...ri demais! HAHAH

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